PLANEJAMENTO TECNOCRÁTICO OU PARTICIPATIVO
Este
texto é um resgate do material trabalhado pelo professor e Assistente Social
Seno Cornely, sobre Planejamento Social.
“O
interesse geral e o bem comum são
teorizações de raciocínios altamente especulativos, noções abstratas, um
pouco mais que ficções científicas.
O que existe são interesses
particulares de classes sociais em luta e, dentro de cada classe, interesses
conflitivos de grupos e subgrupos. Se o planejamento teimar ignorar esta
realidade social dinâmica, fatalmente laborará num colossal equívoco.”
“Não
é debalde que a Universidade zela essencialmente pela reprodução da sociedade
de classes, otimizando a perpetuação das elites e contrariando, pelo menos em
nosso meio a lei de Paredo. Não é debalde que, entre suas funções de ensino,
pesquisa e extensão, as duas últimas sejam quase sempre tratadas de forma modesta. Não é debalde que ela privilegie a transmissão
mecânica do saber erudito ou a repetição monocórdia do manejo das técnicas
geralmente importadas de outros contextos, relegando a segundo plano o saber
popular , a cultura gerada nas bases, a criatividade nacional e a ciência do
cotidiano das classes populares.”...Ora, o planejador, embalado neste limbo,
divorciado da realidade social, formado para ser elite conservadora, tende a
servir acriticamente o sistema imperante.”
O
esquema comparativo abaixo, baseado em trabalho de Kasperson
e Breitbart, mas livremente trabalhado para sua adaptação e reelaborado
pela sua recente reflexão latino-americana, pode ser útil para ampliar a
discussão.
Como
todo esquema, é incompleto e não
pretende responder a todas as questões , levantando, porem, alguns aspectos,
vinculados aos pressupostos do planejamento. Doutra face , sabe-se que não
existe modelo puro e que as duas
modalidades abaixo comparadas se interpenetram não raro na prática. Ver-se-á
igualmente que a discussão não se
esgotará apenas na utilização de
estilos diferentes. Alterações substanciais podem ser claramente percebidas.
QUADRO
1 - A NATUREZA DO PLANO
PLANEJAMENTO
TECNOCRÁTICO
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO
1.
O Plano opera sobre a estrutura social, econômica
e política . O planejador é um técnico, apolítico e neutro. 2.
Os planejadores podem e devem avaliar o interesse do povo em geral, com
base em objetivos gerais de política pública; por isso criam planos que
refletem o interesse geral e o bem comum. 3.
A alocação de recursos públicos em geral e de recursos as cidades em
particular deve ser confiados
aos planejadores que considerarão os interesses da população em geral,
com eficiência, estética e estabilidade para o futuro. 4.
A elaboração do plano geralmente se caracteriza por pesquisas objetivas.
Por isso, os resultados serão mais facilmente
aceitos. O povo, incapaz de manejar os instrumentos da
racionalidade científica, tem alto respeito por procedimentos técnicos
no planejamento. |
1.
O plano depende de decisões e
estas são políticas. Os planejadores lidam com interesses contraditórios
e conflitantes. 2.
Os planejadores farão com que os planos sejam mais públicos, isto é,
que reflitam os interesses dos setores carenciados. Isto significa a
contendas na arena política , além de ampla informação a todos os
membros da sociedade. Não há interesse geral , mas interesses
particulares de grupos. 3.
Os planejadores não podem ditar o futuro para o povo. Devem ser agentes
catalisadores e assessores neste processo. Em sua função de
facilitadores, podem ajudar os indivíduos e grupos mais carenciados
a terem voz ativa. 4.
Os planejadores devem trabalhar com grupos
comunitários e,. a partir da’, entender
suas aspirações e necessidades e propor prioridades. Unidos , técnicos e
povo podem levantar dados , amplamente discutidos, que desmascarem as
injustiças ocultas em muitos planos oficiais em relação aos setores
carenciados |
QUADRO
2 - O PROCESSO POLÍTICO
PLANEJAMENTO
TECNOCRÁTICO
PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO
1.
Questões de natureza política caracterizados
pela competição de interesses privados, não entram nas cogitações
dos planejadores. Sua função se cinge à seleção de métodos técnicos
de solução igualmente técnica. 2.
O processo eleitoral é satisfatório . Arma os indivíduos de uma
participação indireta bem significativa na aprovação dos planos. Os
planejadores assessoram os parlamentares na seleção das alternativas
tecnicamente mais apropriadas. 3.
O processo de planejamento deve ater-se às organizações globais de toda
a cidade e planejar para os interesses comuns de todos os cidadãos,
mantendo-se longe da influência de grupos de interesses particularizados 4.
É desnecessária qualquer mudança na política de planejamento.
Excetuadas as dificuldades burocráticas e as limitações de ordem orçamentarias,
o processo de planejamento funciona normalmente
tão bem , como se poderia razoavelmente esperar. |
m1.
1. Estas questões freqüentemente invadem o processo de
planejamento. A alocação de
recursos desperta a reação dos grupos de interesse. Planos não resultam
apenas da aplicação de métodos e técnicas.
2. As formas de governos democrático-liberal falham no atendimento
das necessidades dos carenciados. É necessário que o processo político
seja participativo ativamente pelos setores populares, em todas as etapas
do planejamento, , e que a representação seja autêntica, através de
lideres que emerjam do povo, e não apenas formal , através dos
parlamentares. 3
3. Geralmente a articulação dos interesses populares faz surgir
uma ambiência política mais competitiva no planejamento. A aprovação
das decisões passa a refletir os interesses de cada grupo na sociedade.
4. A legitimação de qualquer política é determinada pelos
debates e pela participação dos cidadãos na tomada de decisões. Isso não
pode ser conseguido numa estrutura de planejamento centralizado que, a
pretexto dos interesses gerais, exclui os setores carenciados. 2 |