METODOLOGIA
DO PLANEJAMENTO
Planejamento:
Introdução à metodologia do planejamento social - Livro de Myrian Veras
Baptista
O
planejamento se realiza a partir de um processo
de aproximações sucessivas, que tem como centro de interesse a situação
definida como objeto de intervenção. Essas aproximações representam as
diversas fases do método e ocorrem, de modo geral, em todos os tipos e níveis de planejamento. Ainda que essas fases sejam genéricas, o seu conteúdo específico
ira depender da estrutura e das circunstâncias particulares de cada situação.
O
desencadeamento do processo se faz a partir de estímulos ou pressões ,
apontados por Kahn como instigadores ou fatores desencadeantes do processo. Em
geral , esses fatores representam circunstâncias do aqui/agora e surgem
principalmente em função de:
a)
necessidades sentidas, descontentamentos ou crise;
b)
exigências de agencias de financiamentos;
c)
transferência do poder decisório para novas lideranças;
d)
necessidade de fundamentar novos programas;
e)
necessidade de utilizar recursos escassos para atender grandes problemas;
f)
necessidade de aplicar recursos excedentes ou de utilizar equipamentos
ocioso;
g)
moda: "todo mundo está planejando", etc.
Ainda
que o planejamento , como processo contínuo e dinâmico, possa ser resultado
desses estímulos a tendência
natural é levar à elaboração de planos, programas e projetos ocasionais, de
prazo limitado, se não forem acompanhados pela adoção consciente da ação
planejada como política permanente de intervenção.. Portanto, a decisão de
planejar, como observa Celso Lafer, é uma decisão política que pressupõe,
ainda alocação de recursos para sua realização.
Assumida
a decisão de planejar , o processo se inicia percorrendo as seguintes fases:
1)
escolha e delimitação do objeto;
2)
estudo/diagnóstico/momento explicativo da realidade;
3)
definição de objetivos de ação;
4)
formulação de escolhas e alternativas;
5)
montagem de planos, programas e /ou projetos;
6)
implementação;
7)
implantação;
8)
controle da execução;
9)
avaliação da ação executada;
10)
revisão.
Importante:
Embora essa fases se apresentem nesse trabalho em seqüência lógica , contínua
e dinâmica, na prática os seus aspectos nem sempre se mostram nitidamente
ordenados: na prática, o processo tem se apresentado descontínuo em grande número
de casos e, metodologicamente , o planejador muitas vezes trabalha
simultaneamente em diferentes fases, uma vez que elas se interagem
dinamicamente. ( Ver Planejamento Estratégico - Carlos Matus).
1.
Escolha e Delimitação
do Objeto de Planejamento: Seleção do que Planejar
Considerando
que o objeto é o aspecto básico da realidade com o qual ou sobre o qual se irá
formular um sistema de proposições, sua escolha e delimitação no
planejamento se refere a localização da situação-problema e das idéias básicas que serão trabalhadas no decorrer do processo.
A
delimitação do objeto de trabalho no planejamento é uma abstração, com o
objetivo de permitir maior racionalidade á ação , isto porque na realidade
social o aspecto delimitado continua mantendo suas inter-relações com o
universo mais amplo.
A
ênfase na escolha e delimitação do objeto, como primeiro passo no processo de
planejamento, se justifica como um esforço no sentido de tornar consciente e
deliberada a ação de planejar.
Esta
fase poderá apresentar-se ao planejador a partir de diferentes situações:
-
como resultado natural do " feed-back" do processo;
-
a escolha e delimitação do objeto podem
Ter sido realizadas pela instituição solicitadora do planejamento;
-
a instituição solicitadora do planejamento pode deixar a cargo dos técnicos
de planejamento a tarefa de apresentar propostas de objeto e de sua
delimitação.
Definido
e delimitado o objeto, ele deverá ser formulado clara e simplesmente, de
maneira a nortear as demais fases do trabalho. Essa formulação , via de regra,
toma o nome de proposta e apresenta os seguintes componentes:
·
a especificidade do objeto e dos sistemas e subsistemas que o compõem;
·
a justificativa da escolha, destacando aspectos de viabilidade
institucional, política administrativa e técnica
e de importância do problema ( para a instituição, para os grupos
sociais que se beneficiarão do planejamento; para o grupo de técnicos que a
ele se dedica e, se for o caso ,
para a ciência);
·
a explicação das limitações resultantes das restrições
institucionais, administrativas e técnicas e das soluções decorrentes;
·
o dimensionamento da questão e
a formulação de hipóteses iniciais que orientem as investigações e os
estudos posteriores;
·
a operacionalização dos conceitos básicos contidos na formulação da
questão e nas hipóteses iniciais.
(
O papel da hipótese...é sugerir explicações para determinados fatos e
orientar a pesquisa de outros . Tipos de hipóteses: - que afirma que algo
ocorre , que um objeto , uma pessoa , uma situação ou um acontecimento específico
tem certas características ; - que se refere á freqüência
de acontecimentos ou á ligação entre várias variáveis : algo ocorre
em determinado tempo, algo tende a ser acompanhado por alguma coisa; - que
afirmam que determinados fatores são determinantes
de outros.)
2.
Estudo /Diagnóstico/Momento Explicativo
Nesse
sentido, segundo Mattelart ( planejador Chileno) e sua equipe,
podem-se considerar como objetivos do estudo/diagnóstico:
·
a configuração de um marco de situações ou antecedentes;
·
a identificação de áreas críticas e de necessidades;
·
a determinação de elementos que permitam justificar a ação;
·
a análise de instrumentos de realização;
·
o estabelecimento de prioridades.
Desta
maneira, considerando o planejamento um processo que se realiza em uma realidade
dinâmica, a análise diagnóstica deverá ser considerada sob a perspectiva
de um conjunto dinâmico de informações , constantemente alimentadas
no decorrer do processo. Esse conjunto de informações deverá se
constituir em insumos permanentes para
o planejamento da ação enfocada: para localizar , compreender , controlar e
prever tendências da situação como um todo e de cada um de seus aspectos:
para fornecer elementos de juízo que permitam esboçar hipótese alternativas
viáveis de intervenção.
Nessa
perspectiva, Faleiros afirma que o
diagnóstico...leva em conta a posicionamento social do técnico frente à
realidade a ser planejada, levando em conta:
·
sua classe social;
·
a ideologia de sua análise;
·
o seu método de raciocínio
e as raízes psico-sociais desse método;
·
os valores implícitos nos seus juízos sobre a realidade.
Faleiros
considera que essas variáveis irão se tornando cada vez mais controláveis
á medida em que o planejador as
coloca no inicio e no decorrer da análise . Essa é uma condição indispensável
para garantir a validade objetiva do diagnóstico.
O
processo de elaboração do estudo/diagnóstico envolve:
·
o levantamento de hipóteses preliminares;
·
a montagem de um quadro referencial;
·
a coleta e o processamento dos dados de realidade
·
a reflexão diagnostica;
·
a identificação de prioridades de intervenção
2.1.
Levantamento de Hipóteses Preliminares
As
hipóteses preliminares de explicação da situação e as de possibilidade de
intervenção são, via de regra , o objeto do estudo/diagnóstico. Geralmente,
estas hipóteses são levantadas a partir de um referencial já existentes,
relacionando com a situação abordada, e do senso comum a respeito da
realdiade.
2.2.
Montagem do quadro Referencial
A
montagem do quadro referencial para o estudo/diagnóstico tem por base a análise
e a explicitação dos valores e padrões assumidos pela equipe planejadora,
pela instituição e pela população envolvida no processo.
Conta,
ainda, com o levantamento dos conhecimentos teóricos, das generalizações e
das leis científicas desenvolvidas em relação aos diferentes fenômenos
sociais, culturais, psicológicos, políticos, econômicos, etc.
Esses
estudos deverão ser organizados com simplicidade e a clareza suficientes para a
sua verificação quando confrontados com dados concretos dos fenômenos sociais
, possibilitando, ainda:
1)
a identificação e a categorização das necessidades e aspirações
relacionadas com a situação do problema;
2)
a identificação de princípios e conceitos com ela relacionados;
3)
a determinação ou identificação dos indicadores e parâmetros para
aferição dos fenômenos ligados á situação;
4)
a especificação de normas e padrões de intervenção.
2.3.
Coleta e Processamento de Dados de Realidade
A
coleta e o processamento de dados de realidade se relacionam com o levantamento
de informações, de maneira a permitir a composição de índices dos
indicadores determinados pelo quadro referencial, sua análise e estudo
projetivo, com vistas a identificar tendências e pontos críticos na realidade
abordada.
Portanto,
a coleta de dados para o planejamento deverá se processar de maneira
acumulativa, no decorrer de todo o processo, constituindo, como já foi dito, um
conjunto dinâmico de informações.
Desta
maneira, o estudo não se esgota nesse momento do planejamento , mas é
permanentemente realimentado por informações procedentes de novos estudos e
pesquisas e/ou avaliações da ação desencadeada.
2.4.
Reflexão Diagnóstica
3.
Definição de Objetivos e Estabelecimentos de Metas
A
fase de definição de objetivos de ação caracteriza um momento de tomada de
decisões no processo de planejamento, no qual se define o estado de coisas que
se pretende atingir com a ação planejada. A definição de objetivos tem por
base: os valores e a ideologia do grupo planejador, as características da
instituição, o reconhecimento do problema e a análise diagnostica realizada.
A
definição dos objetivos, dentro do processo de planejamento, se faz á luz do
conhecimento dos interesses expressos ou implícitos do poder decisório.
Em
planejamento , dificilmente são encontrados tipos únicos de objetivos e metas:
além daqueles que servem diretamente ao objeto, existem as metas políticas, as
de eficiência etc.
Além
das qualificações quanto ao conteúdo, os objetivos e as metas podem ser
classificados segundo o tempo presumido para o seu alcance:
a)
objetivos a longo prazo: quando o seu alcance é definido em termos
relativamente distantes (no planejamento governamental, o longo prazo é o que
ultrapassa um período de governo).
Os objetivos de longo prazo são, em geral, os alvos finais do empreendimento.
Devem possibilitar uma compreensão
clara para dos futuros impactos das decisões atuais e uma maior consciência da
mudança esperada, a fim de permitir a ordenação dos esforços no sentido de
consegui-la.
b) objetivos de curto prazo: podem ser traduzidos em metas que possam ser alcançadas no exercício de uma
administração
e , têm , como vantagem, as
recompensas resultantes de uma ação de efeitos imediatos.
c)
objetivos imediatos: referem-se a alvos estabelecidos em menor prazo,
quase imediatamente. Geralmente visam estabelecer alvos padrões para atividades
do cotidiano, de modo a permitir que os objetivos de maior alcance sejam
atingidos.
1)
Aceitabilidade: um objetivo deve ser aceitável para as pessoas, cujas ações
se acham envolvidas na sua execução;
2)
Exeqüibilidade: um objetivo tem de ser exeqüível dentro de um tempo
razoável;
3)
Motivação: deve ter
qualidades que motivem a população
a desejá-lo e a esforçar-se para alcançá-lo;
4)
simplicidade: deve ser simples e claramente estabelecido;
5)
comunicação: deve ser comunicado a todos que se acham ligados a sua
consecução.
4.
Formulação e Escolha de Alternativas
5.
Montagem de Planos e/ou Programas e /ou Projetos
6.
Implementação
7.
Implantação e Execução
8.
Controle
Em
planejamento , o controle pode ser
definido como a fase em que se processa o
acompanhamento , a mensuração e o registro do trabalho executado.
9.
Avaliação
A
avaliação , no processo de planejamento corresponde à fase em que o
desempenho e os resultados da ação são examinados a partir de critérios
determinados , com vistas a formulação de juízos de valor.
10.
Retorno ( Feed- Back)
A
fase do retorno , ou do feed-back , ou de realimentação do processo de
planejamento , se traduz em novas políticas , em novos planos, com base nas
evidências percebidas a partir do acompanhamento do progresso da intervenção
e da análise dos resultados obtidos.