ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O
termo planejamento, neste estudo, se refere ao processo permanente e metódico
de abordagem racional e científica de problemas. Enquanto processo permanente ,
supõe ação continuada sobre um conjunto dinâmico de variáveis, em um
determinado momento histórico. Enquanto processo metódico de abordagem
racional e científica, supõe uma seqüência de atos decisórios, ordenados em
fases definidas e baseados em conhecimentos científicos e técnicos.
Nessa
perspectiva, o planejamento se refere , ao mesmo tempo, a definição das
atividades necessárias para atender problemas determinados e a otimização de
sua seqüência e inter-relacionamento, levando em conta os conta os
condicionantes impostos a cada caso, recursos, prazos e outros- diz respeito,
também , as providências necessárias a sua adoção, ao acompanhamento da
execução, ao controle, a avaliação e a redefinição da ação.
Uma
análise do processo de planejamento, leva-nos a identificar as diferentes
dimensões que o caracterizam;
*
sua dimensão racional;
*
sua dimensão política;
*
sua dimensão valorativa;
*
sua dimensão técnico-administrativa.
Em
seu aspecto racional , o planejamento é prática que norteia naturalmente as ações
das pessoas, levando-as a planejar , mesmo sem se perceberem
de que estão fazendo. Decorre do uso da inteligência num processo de
racionalização da ação. Assim Friedmann aponta que “somos todos
planejadores e talvez seja mais
importante raciocinar como um planejador que produzir planos acabados”. Neste
enfoque, o planejamento é o hábito de pensar e agir dentro de uma sistemática
própria.
Enquanto
processo racional, Whitaker distinguiu no planejamento as seguintes operações:
a)
de reflexão - que diz respeito ao conhecimento de dados, à análise e estude
-o de alternativas, a adaptação combinação
de conceitos e técnicas de diversas disciplinas
relacionadas com a explicação e quantificação de fatos sociais, e
outros;
b)
de decisão - que se refere à escolha de alternativas, à determinação de
meios, a definição de prazos, etc;
c)
de ação - relacionada a execução das decisões. É o foco central do
planejamento. Realiza-se por etapas pré-estabelecidas na operação anterior, a
partir de instituições e de pessoal especificados;
d)
de revisão - operação crítica dos efeitos da ação planejada, com vistas ao
embasamento de ações posteriores.
A
dimensão política do planejamento decorre do fato de que ele é um processo
contínuo de tomada de decisões, o que caracteriza
ou envolve uma função política, seja da área governamental, seja da
área privada.
Os
momentos específicos de tomada de decisão ocorre por ocasião da definição
de objetivos e metas, da escolha de prioridades e alternativas de intervenção,
de modificação nos níveis e/ou na composição de recursos, de distribuição
de responsabilidades, etc.
Lozano
e Ferrer, afirmam não ser fácil estabelecer a inter-relação necessária
entre o elemento técnico (ou de concepção) e o elemento político (ou de
decisão) no processo de planejamento. Para que isso ocorra , sugerem:
*
a definição clara das funções e a articulação
funcional e operativa entre órgãos técnicos e centros decisórios;
*
uma atitude favorável do poder decisório em relação as mudanças propostas;
*
que o planejamento, como técnica,
se faça respeitável por sua eficácia, oportunidade e apresentação.
Nessa
dimensão do processo de planejamento, cabe ao técnico o equacionamento e a
operacionalização das opções assumidas pelo centro decisório, configurando
os seguintes momentos:
1)
equacionamento - que corresponde ao conjunto de informações significativas
para a tomada de decisões, encaminhada pelos técnicos de planejamento aos
centros decisórios. Lozano e Ferer, referindo-se ao exercício dessa atividade,
comentam: “A função essencial do
planejamento , como instrumento técnico , é aumentar a capacidade e melhorar a
qualidade do processo de adoção de decisões:
-
oferecendo dados básicos da situação e necessidades, e elementos de juízo
para as situações;
-
oferecendo dados das tendências e
projeções futuras”.
2)
decisão - que corresponde à escolha de alternativas. O nível de participação
do planejador , nessa atividade, é variável de acordo com as particularidades
de cada caso.
3)
operacionalização - relaciona-se com o detalhamento as atividades necessárias
à efetivação das decisões tomadas , cabendo aos técnicos sua consubstanciação
em planos, programas e projetos, e, na ocasião oportuna, as medidas para sua
implementação.
4)
ação - refere-se as providências que transformarão em realidade o que foi
planejado. Cabe ao técnico, nesta etapa, o acompanhamento
da implementação, o controle e a avaliação que realimentarão o ciclo
de planejamento, de acordo com as perspectivas da política.
A
dimensão valorativa do planejamento decorre do fato do mesmo favorecer o
desenvolvimento de uma tecnologia que, se por um lado, possibilita soluções
científicas para os problemas de uma sociedade em permanente mudança, por
outro lado, viabiliza a centralização do poder e o aumento de sua eficácia
controladora. Envolve ainda, opções valorativas de conteúdo ético, uma vez
que, envolve decisões sobre alternativas de intervenção propositadas em situações
presentes, tendo em vista a mudança da situação futura determinados grupos
sociais, os quais nem sempre tem acesso a essas decisões ou nelas influenciam.
Essa
perspectiva evidencia a necessidade do planejador ter presente, ao realizar seu
trabalho, as idéias e o sistema de valores subjacentes as decisões norteadoras
do planejamento e, ao mesmo tempo, procurar compreender a realidade em seu
contexto mais universal. Determina, ainda, a necessidade de uma análise crítica
do significado e das decorrências das novas propostas para
aqueles que estiverem sob seu raio de influência e a importância da
participação dos mesmos no processo decisório.
Sob
o aspecto administrativo, o planejamento é constituído pelas atividades que
imprimem organização a ação, e que são realizadas pelos órgãos executores
da política e da programação adotada.
A
organização técnico-administrativa da ação planejada pressupõe uma
montagem que pode abranger diferentes níveis e setores, a partir da linha
mestra da política de ação, que deve servir de base a todos os níveis de
decisão. Essa hierarquia das decisões, segundo Minnich, deve preencher
os seguintes requisitos:
a)
estrutura organizacional, com delegação de funções, autoridade e
responsabilidades, acuradamente definida e claramente exposta;
b) normas
de conduta adequadas, que possam ser postas em prática sem dificuldades;
c) sistema
de informações rápido e eficiente , que forneça a corrente informativa
necessária à tomada de decisões;
d) sistema
de avaliação e controle que permita a adequação de medidas de ação, de
acordo com os desvios importantes na ação e nos resultados planejados.
(Myrian
Veras Baptista - Planejamento - Introdução a Metodologia do Planejamento
Social pag 13/18)